“Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos” – Sl 103.17
Uma das melhores definições que conheço para misericórdia é: “fazer algo por alguém que não pode fazer por si mesmo”. Assim, misericórdia expressa a ação benéfica sobre a vida do próximo, ajudando-o em suas limitações e lhe oferecendo algo que está além de sua capacidade e sua possível retribuição. Nossa humanidade se vê claramente quando a misericórdia se faz presente: recém-nascidos carecem da misericórdia de seus pais; quem ama carece da misericórdia do ser amado; feridos e doentes carecem de misericórdia. A misericórdia atua no campo das necessidades e não dos desejos, pois estes, na maioria das vezes, extrapolam a necessidade. Para entender a misericórdia divina é preciso primeiro entender a miséria humana.
Um dos cinco pontos do calvinismo é chamado de total depravação. Esta expressão é abrangente e profunda, alcançando não somente a questão espiritual, mas também mental e física. A tese sustenta-se na presença do pecado no mundo e nas pessoas corrompendo tudo de tal forma e com tal intensidade que estabelece a incapacidade total do que foi contaminado pelo pecado de mudar sua realidade. É uma corrupção que está entranhada e que passou a fazer parte da essência do ser humano e escravizando-o (ligando-o inseparavelmente) pelo pecado. Desta forma absolutamente nenhuma pessoa tem condições, por si mesma, de quebrar estes grilhões ou modificar sua natureza decaída sem uma ação específica de Deus. Para referendar esta proposição podemos descrever da seguinte maneira: a. Pecado – errar o alvo estabelecido por Deus para suas criaturas (Rm 3.23); b. Pecadores – os que cometem pecado, quer por culpa ou dolo (1Jo 1.10); c. Imerecedores – ninguém tem virtudes suficientes (Rm 3.10-12); d. Reativos – Só fazemos o bem porque somos induzidos por Deus ( Fl 2.13).
Não havendo a mínima possibilidade de uma ação pessoal que seja transformadora em sua essência, o ser humano e tudo o que foi corrompido pelo pecado precisa de uma ação misericordiosa da parte de Deus, e é sobre isto que o salmista se refere ao falar desta misericórdia: a) que ela é eterna; b) que ela é sobre os que o temem; c) que ela é concedida de geração em geração. Sobre esta ação de misericórdia de Deus é preciso entender duas questões: 1) A graça comum; 2) A graça especial. A primeira é a manifestação da misericórdia sobre todas as pessoas, misericórdia que se revela na vida, na saúde, na renovação de cada dia, no abençoar dos frutos da terra ou dos dividendos oriundos do trabalho que, em última análise, Deus permite. A graça comum está afeta a todas as pessoas e se restringe ao tempo presente. Já a graça especial é a manifestação específica de Deus a determinados indivíduos aos quais ele escolheu e elegeu como seus filhos, os quais passarão a eternidade ao seu lado. Esta é a graça que traz o esclarecimento necessário à mente para entender quem é Jesus e o que significa a obra que ele fez na cruz. Redenção, justificação, purificação, santificação entre outras doutrinas são inteligíveis e incorporáveis plenamente somente àqueles que foram escolhidos para tal entendimento e vida. A vida eterna não é para todos (Ex 33:19), e a fé para entender e aceitar como verdade absoluta vem do Senhor (Ef 2. 4-10).
O que resta aos homens? Podem fazer algo para alcançar a misericórdia? Ou algo para incrementá-la ou completá-la? Não há nada a ser feito, pois tudo o que era necessário foi realizado por Cristo. Se houvesse algo a ser feito pelo homem não seria mais “misericórdia” na acepção da palavra (Lm 3:22). Diante de tamanha misericórdia, resta aos homens curvarem-se perante o Senhor da glória e obedecerem a sua augusta vontade (Sl 103.19).
O mundo em que vivemos, esta “aldeia global” ou sociedade mundial quer convencer as pessoas de que não são pecadoras. Uma vez desconstruído o conceito de “pecado” entregam-se aos seus prazeres e desejos revelando seu propósito para que todos recebam a mesma condenação no último tempo: a morte eterna. De fato, como bem disse o apóstolo Paulo, “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23), e que o salário não é considerado como favor, mas sim como dívida a ser paga integralmente (Rm 4.4).
Precisamos nos lembrar constantemente de que sem Cristo não somos em nada diferentes das demais pessoas e que, por isto, Cristo é a expressão maior da misericórdia de Deus. Em Cristo, por Cristo e com Cristo somos agraciados e nossas famílias são abençoadas na exata medida em que continuamos firmes e fiéis ao Senhor e aos seus preceitos. Por isto devemos nos render cada vez mais, nos submeter com mais consciência, nos entregar com mais empenho no altar do Senhor todos os dias de nossa vida (Rm 12.1-2).
Uma sugestão: leia todos os endereços bíblicos que foram apresentados.
Um bom a abençoado dia!
Rev. Joel