IPJ

O apóstolo Paulo quando escreve esse trecho da carta aos romanos destaca algumas preciosas informações para nós, a saber, a teologia precisa transformar-se em doxologia conforme apresenta-nos aqui no 11.33–36. Paulo passa da teologia para a doxologia, da doutrina para o louvor, do argumento para a adoração. Neste sentido, entenda que não separaremos a teologia, ou seja, nossa crença em Deus, da doxologia, significa o nosso culto a Deus. O apóstolo Paulo está orientando que não pode haver uma teologia sem devoção, assim como uma devoção sem teologia. As coisas profundas de Deus devem levar-nos à adoração, assim como a adoração leva-nos a desejar conhecer profundamente ao Senhor. O estudo da teologia leva-nos à compreensão de que Deus não pode ser plenamente compreendido por nossa mente finita, mas leva-nos a adoração ao Deus criador de todas as coisas. Movido pela Palavra e pelo Espírito do Senhor, sentindo-se finalmente dominado pela sublimidade de tão profundo mistério, o apóstolo nada mais pode fazer senão ponderar e exclamar que as riquezas da sabedoria de Deus são demasiadamente profundas para que nossa razão seja capaz de sondá-las. Paulo está bem certo de suas palavras, ele está exaltando as profundas riquezas da sabedoria e do conhecimento de Deus.

Paulo descreveQuão insondáveis são seus juízos”, tais palavras expressam o sentido de ordenanças divinas ou a maneira divina do agir, o governar de Deus, essa exclamação exalta ainda mais o mistério divino. O Pai revelou-nos o Seu ser na Escritura sagrada, note que ele não pretende discutir aqui todos os mistérios de Deus, mas somente aqueles que se acham escondidos em Deus, e mediante os quais Deus deseja que o admiremos e o adoremos.

Paulo restringi a presunção humana, como se pusesse sua mão sobre os homens com o fim de detê-los e impedi-los de murmurarem contra os juízos divinos. A pergunta “Quem conheceu a mente do Senhor?”, constrange o homem, pois na nossa finitude e tão desprovimento de conhecimento perto de Deus, mostra-nos que não conhecemos a mente dEle. Observe que ele utiliza dois meios para restringi-los:

  1. Todos os seres humanos se acham, por sua cegueira, completamente impedidos de fazer, por seu próprio critério, um devido exame da predestinação divina.
  2. Não existe nenhuma razão para nos queixarmos de Deus, não há indivíduo que possa pretender que Deus lhe seja devedor. Todos somos endividados em relação à liberalidade divina.

A predestinação divina ensina que os homens não podem discernir mais do que é possível a um cego na escuridão. Estas palavras, contudo, têm muito pouco suporte para que nossa fé não se definhe, visto que ela não tem sua origem na perspicácia do intelecto humano, e sim, tão-somente na iluminação do Espírito. O apóstolo Paulo afirma que todos os mistérios divinos se acham muito além da compreensão de nossa capacidade natural. Para compreendermos uma pequena parte da mente de Deus, poderíamos dizer uma ínfima parte, necessitamos da compreensão concedida por intermédio do Espírito Santo. Neste sentido que Paulo prossegue escrevendo em sua 1 Coríntios 2,12-16 que os crentes compreendem a mente do Senhor, pois não receberam o espírito do mundo, mas, sim, o Espírito que é outorgado por Deus, por meio de quem aprendem que, de outra forma, a benevolência divina lhes seria inacessível. É somente pela Graça divina que recebemos.

O ser humano não tem capacidade legal, em nossas próprias faculdades, para investigar os segredos divinos, assim chegamos a um claro e seguro conhecimento deles pela instrumentalidade da graça do Espírito Santo. A capacidade de compreensão sobre Deus, é concedida ao homem através do Espírito Santo. Nosso dever é deixar-nos guiar pela orientação do Espírito, então devemos ficar e permanecer onde Ele nos deixar. Ninguém conhece mais do que o Espírito lhe haja revelado, o mesmo acabará sendo fulminado pelo imensurável fulgor dessa luz inacessível.

O conselho de Deus, Sua vontade, Seus caminhos foram revelados na Escritura, neste sentido o que está escrito cabe ao homem conhecer. Ainda que toda a doutrina da Escritura exceda, em sua sublimidade, ao intelecto humano, todavia os crentes que seguem o Espírito como seu Guia, com reverência e circunspecção, não são proibidos de ter acesso à vontade divina. Entretanto, outro é o caso em relação a seu conselho oculto, cuja profundidade e cuja altura não temos como atingir através de nossa investigação.

O conhecimento de Deus se refere ao todo-inclusivo e exaustivo entendimento de Deus, e a sabedoria fala sobre o arranjo e a todas as coisas para o cumprimento de seus santos propósitos. A sabedoria de Deus planejou a salvação e foi sua riqueza que a concedeu-nos, pela sua maravilhosa Graça, os juízos de Deus são profundos e insondáveis. Seres tão ínfimos em conhecimento e finitos como nós, não penetraram nas profundezas desses caminhos inescrutáveis.

O apóstolo defende a justiça divina contra todas as acusações dos ímpios através da pergunta: “Ou quem primeiro lhe deu a Ele?”. Esta pergunta está profundamente relacionada ao viver debaixo da vontade de Deus, confiando que jamais receberemos algo do Senhor por merecimento, mas o recebemos pela Sua boa e agradável vontade. O significado das palavras de Paulo consiste em que Deus não pode ser acusado de injustiça, a não ser que seja Ele convencido de não haver retribuído a cada um o que lhe é devido. Não obstante, é evidente que Deus não priva ninguém de seus direitos, visto não ser Ele devedor a alguém. Quem é capaz de ostentar alguma obra propriamente sua pela qual se acha merecedor do favor divino, ninguém é capaz de cobrar a Deus por nada, a escritura ensina-nos que somos merecedores de nada, aliás somente cabe a restituição da condenação. A maravilhosa Graça concedida aos escolhidos do Senhor nos é dada pela benevolência do Pai e não por merecimento humano. Não que se acha em nosso poder exigir que Deus nos conceda a salvação, com base em nossas obras, ao contrário, Ele antecipa sua benevolência sem qualquer mérito de nossa parte. Ele nos mostra não só o que os homens têm por hábito fazer, mas também o que eles são capazes de fazer. Caso queiramos fazer um honesto exame de nós mesmos, então descobriremos não só que Deus de forma alguma nos é devedor, mas também que todos nós somos passíveis de seu justo juízo. Somos não apenas destituídos do merecimento de qualquer favor de sua parte, somos mais que merecedores de morte eterna.

Deus não nos deve nada em razão de nossa natureza corrupta e depravada e também assevera que, mesmo que o homem fosse perfeito, ainda assim não poderia apresentar nada a Deus. O homem a luz da própria lei da criação já se vê tão endividado em relação a seu Criador, que nada consegue divisar que seja propriamente seu, neste sentido, fracassaremos caso nos esforcemos em privar a Deus do direito de agir soberanamente, como bem lhe apraz, com as criaturas que ele criou para si, como se isso fosse uma questão de débito ou crédito mútuo.

O apóstolo Paulo finaliza com a sublime declaração, Porque dele e por meio dele e para ele são todas as coisas.” Encontramos uma verdade expressa nestas palavras, mostra-nos quão longe estamos de vangloriar-nos, isso demonstra de forma clara nossa incapacidade. Visto que fomos criados por Deus, a partir do nada, e agora o nosso mesmo ser depende dEle, conclui-se ser justo que nosso ser seja orientado para Sua glória. Quão absurdo seria que as criaturas, a quem Ele formou e sustenta, possuíssem algum outro propósito que não fosse a manifestação da glória de seu Criador. A suma do argumento consiste em que toda a ordem da natureza seria invertida caso o mesmo Deus, que é o princípio de todas as coisas, deixasse de ser também o fim. Neste sentido de forma extraordinária encontramos que Jesus Cristo é o começo, o meio e o fim, por isso “A Ele seja a glória para sempre”.

A glória do Senhor deve permanecer inalterada em toda e qualquer parte, Deus, com justa razão, reivindica para Si autoridade absoluta, e que nada, além de sua glória, deve ser buscado na natureza humana e no mundo inteiro. Segue-se que são totalmente absurdos, irracionais e deveras insanos aqueles conceitos que são engendrados com fim de desvalorizar o mérito, a importância da glória divina.

A luz desses versículos concluímos que cabe somente a Jesus Cristo, toda honra, toda a Glória e todo Louvor. Somos criaturas com a finalidade de louvá-lo, adorá-lo, glorificá-lo, hoje e por toda a eternidade.

Uma aplicação para nossas vidas, busquemos adorar ao Senhor como servos fiéis unindo a teologia com a doxologia, ou seja, o desejo incansável de conhecer ao Senhor da Escritura Sagrada, mas com adoração e louvor.

Ele é o começo, o meio e o fim, louvado seja o Senhor!

Uma boa semana a todos.

Rev. Cristiam Matos

 

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *