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Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas” – Eclesiastes 1.10-11

 

Quem lê estes versos aleatoriamente vai ter a nítida impressão de que Salomão não tinha a menor ideia do que os séculos seguintes revelariam sobre a inventividade humana. Fico a imaginar o que ele diria sobre a eletricidade, carros, celulares e outros avanços tecnológicos…

Porém um texto não pode ser retirado de seu contexto. Salomão discorre neste livro sobre como a vida humana não muda quanto aos seus anseios e temores, seus desejos e frustrações, suas conquistas e derrotas, sua sabedoria e seu pecado. Ao olhar para estas coisas Salomão chega à conclusão – e vai falar sobre isto – que tudo é vaidade (v.2). Para entender o que ele quer dizer, precisamos conceituar “vaidade”: é a qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória. Esta obra de Salomão parece triste, destituída de esperança e revelando possíveis sinais de uma pessoa depressiva. Seus olhos contemplam a natureza e o trabalho humano e vêem somente um ciclo que se repete geração após geração, dia após dia (v.4-9). Salomão reconhece a própria vaidade de seus atos ao afirmar que aplicou seu coração para minucioso estudo das coisas, e somente encontrou aflição de Deus (v.13) e correr atrás do vento (v.14). Chegou à conclusão de que aquilo que é torto (implicitamente aquilo que Deus criou para ser torto) o homem não pode endireitar, e o que falta (de conhecimento, de informação) não se pode calcular (v.15). Salomão reconheceu o dom excelente que Deus lhe havia dado (v.16) e se engrandeceu aos seus próprios olhos com isto até reconhecer que também era vaidade (v.17). O que ele encontrou? Termina o capítulo primeiro dizendo que na muita sabedoria encontrou enfado (tédio, fadiga espiritual, aborrecimento de alma) e tristeza. 

Ler estas palavras parece um determinismo cruel, de que nada vale a pena, que o mundo é uma grande prisão cujos habitantes tem a sensação de liberdade. Será?

Existe uma informação que ocultei propositadamente. Salomão escreveu este livro já em sua velhice, depois de ter visto e vivido muito. A Bíblia diz que neste período ele se desviou do Senhor. Está escrito: “Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus, como fora o de Davi, seu pai” (1Rs 11.4). Seguindo a leitura do livro de Reis encontramos que Salomão se tornou idólatra e seguiu a Astarote, Milcom, edificou um santuário a Quemos e outro para Moloque (1Rs 11.5-8). 

Não há novidade no fato de alguém se desviar do Senhor e perder de vista a verdadeira beleza da criação que se renova dia a dia. Não há novidade no fato de que pecadores de qualquer tempo vivem sem esperança, enfastiados e angustiados pela mesmice de uma vida sem sentido. Não há novidade na tecnologia que avança, na ciência que evolui, nas milhares de vacinas criadas para combater doenças e que o homem sem Deus continue a ver a vida desta perspectiva pessimista, derrotista, decepcionante porque não há como escapar da morte. 

Não há novidade no fato de que pessoas que andaram com Deus, que viram os milagres divinos, que experimentaram coisas espirituais elevadas cheguem, no fim da vida, sem a permissão para entrar na eternidade (Hb 6.4-6). A história de Judas, um dos chamados para seguir a Cristo, é uma clara demonstração que nem todos são escolhidos para a vida eterna ao lado de Deus (porém aplicar este mesmo raciocínio para Salomão até parece sacrilégio…). Não há novidade alguma sobre o amor, a graça e a misericórdia de Deus na vida dos homens, assim como não há novidade alguma que muitos não entrarão no reino dos céus (Mt 22.14). 

Não existir novidade não significa algo ruim, pelo contrário: significa que aquilo que está estabelecido não vai mudar, chova ou faça sol, seja dia ou noite, melhorem as condições de vida ou novas enfermidades surjam. Confiamos no Deus imutável, nas predeterminações definidas já na eternidade, na certeza de que somente pela graça é que somos salvos. Louvado seja Deus porque, em não existindo novidade alguma, nada nos separará do seu amor.

Um bom e abençoado dia!

Rev. Joel

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