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“…visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” – Rm 1.17

 

Este mês comemora-se a Reforma Protestante. De forma geral, a história registra que este foi um movimento religioso que fez separação entre a Igreja Católica e as que não se submetiam ao poder e controle do papado. Fala-se da sua importância como afeta somente ao ambiente teológico e eclesiástico, porém, pouco se fala sobre sua verdadeira influência no desenvolvimento das sociedades humanas. 

Para entender melhor é preciso rememorar um pouco da história daqueles dias, do que estava acontecendo no mundo chamado “cristão”. Historiadores chamam de “era das trevas” o período de 500 a 1500 d.C. – tempo este onde a igreja tornou-se a religião oficial, e ganhou “corpo” no mundo obtendo poder político e acumulando riquezas materiais. Os princípios básicos do cristianismo bíblico foram “acrescidos” por dogmas humanos voltados para o controle geral das pessoas e nações. O poder do papado entrou em declínio devido ao proceder mundano do clero culminando com a divisão do poder em três papas distintos e rivais liderando em lugares distintos (Urbano VI, Clemente VII e Bento XIII) de 1378 a 1417. Em oposição a esta situação vergonhosa surgiram movimentos protestantes nos séculos 14 e 15 cujos nomes mais proeminentes são: João Wicllif (1325-1384), João Huss (1372-1415) e Jerônimo Savanarola (1452-1498), conhecidos como pré-reformadores por criticarem abertamente as irregularidades e imoralidades do clero, condenar as superstições, peregrinações, veneração aos santos, celibato e a incentivar o estudo da Palavra de Deus pelo povo em geral. Por causa deste posicionamento foram perseguidos e martirizados. Deste movimento surgiram os biblicistas (humanistas que estudavam as escrituras). Este era o “pano de fundo” que acolheu os reformadores: um período conturbado por revoltas, guerras, epidemias e profunda necessidade de transformações sociais.

Martinho Lutero (1483-1546 – monge agostiniano e professor na Universidade de Wittemberg) ficou profundamente incomodado com a venda das indulgências (perdão papal para todos os tipos de pecados pessoais ou de entes já falecidos) e afixou suas 95 teses (temas para debate público) na porta da igreja do castelo. Considerado insurgente e herege pelo papado manteve-se firme em seus postulados (inclusive contra a “infalibilidade papal”) e por isto foi excomungado. Um de seus maiores legados foi a tradução da Bíblia para o vernáculo alemão – a primeira obra impressa de Gutenberg. Conflitos armados entre católicos e protestantes ocorreram em vários lugares, e teve fim quando o imperador alemão assinou o tratado de “paz de Augsburgo” reconhecendo a legalidade do luteranismo como religião oficial. Felipe Melanchton (1497-1560), auxiliar de Lutero, apresentou na ocasião a “confissão luterana” com 21 artigos indicando 7 erros da doutrina católica. 

Outro reformador de peso foi Ulrico Zwuinglio (1484-1513); trabalhou na Suíça e deu origem às igrejas reformadas, inclusive no sul da Alemanha promovendo mudanças mais radicais que os luteranos.

O grande reformador do século 16 foi, sem dúvida, João Calvino (1509-1564). Tornou Genebra o centro do protestantismo e preparou líderes para toda a Europa, os quais promoveram grandes mudanças políticas, religiosas e sociais seguindo o exemplo proposto pelo reformador. Seu grande legado foi o mais completo sistema teológico protestante que influenciou as igrejas reformadas da Europa continental e as presbiterianas nas ilhas britânicas. 

Na Escócia o protestantismo foi introduzido por João Knox (1515[?]-1572), e tornou-se a religião oficial em 1560; neste período seus manifestos sobre a fé reformada influenciaram tremendamente a política e a sociedade; sua liturgia de culto (Livro de Ordem Comum) estabelecia a centralidade da Palavra e os serviços religiosos somente na língua local; sua Constituição (Livro de Disciplina) contemplava tópicos sobre educação geral, auxílio aos pobres, idosos e doentes, e cooperação entre Igreja e Estado. 

Enganam-se aqueles que imaginam que a Reforma Protestante teve seu impacto apenas no âmbito religioso. Avanços sociais, cuidado efetivos e não paliativos com os necessitados, combate à imoralidade e a violência, guia para programas políticos e governamentais, valorização das ciências e das artes entre outros foram resultado direto do protestantismo no mundo. 

Mais do que nunca estamos necessitando de uma nova Reforma Protestante. Uma que surja da insatisfação com a situação política, social e religiosa, que aponte como solução definitiva os valores cristãos, que viva o cristianismo bíblico com santidade e piedade. Que esta reforma comece no meu e no seu coração.

Um bom e abençoado dia!

Rev. Joel

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