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“Ampara-me, segundo a tua promessa, para que eu viva; não permitas que a minha esperança me envergonhe”  – Sl 119.116

 

O hino 61 é muito bonito. É um hino de gratidão ao Senhor onde a vida, o futuro e o passado são entendidos como graças recebidas das dadivosas mãos de Deus. Exalta cada interferência divina no decurso da vida – para o bem ou para o mal – e aceita tudo com submissão e resiliência. 

As duas últimas linhas da segunda estrofe refletem a religiosidade humana e seu relacionamento com o Senhor: “Pela prece respondida / E a esperança que falhou“. Dar graças pelas respostas das orações é algo abrangente, pois refere-se tanto as respondidas de forma positiva quanto as negativas; porém, como entender “a esperança que falhou?” Pode a esperança falhar? 

Para entender melhor esta questão é preciso dissociar a vontade do homem da vontade de Deus. Durante nossa existência temos alguns desejos que são bons e lícitos, e pelos quais nos colocamos diante de Deus em oração. Eis alguns exemplos: uma promoção; a restauração dos laços familiares; a cura de uma enfermidade. Nossa esperança às vezes se prende a estas coisas temporais (necessárias, importantes e urgentes, mas ainda assim temporais, pois promovem prazer e alegria para esta vida) com tal intensidade que gera ansiedade em nossa relação com Deus. Passamos a esperar com intensidade e, quando tais esperanças não se concretizam (outro é promovido; o cônjuge se mostra irredutível em sua intenção de separação; a enfermidade progride e dá lugar à morte) nosso coração sofre um duro e terrível golpe. O que fazer nesta situação? romper com Deus? Afastar-se daquele que nos ama porque não atendeu nossas expectativas e esperanças? 

Abandonam o Senhor aqueles que não o conhecem intimamente e nem confiam em seus planos para suas vidas. As “esperanças” frustradas não mudam o fato de que Deus continua a ser Deus, que ele não está aí de prontidão para satisfazer todas as nossas esperanças em coisas temporais. A vida é muito complexa e dinâmica, e não temos como ver o quadro geral como o Senhor o vê. Ter esperanças temporais frustradas nada mais é do que uma contingência para quem está vivo, de quem têm sentimentos, de quem quer o melhor para si e para os seus; submeter-se a Deus nesta condição de frustração é acreditar que Ele sabe o que, de fato, é melhor para nossa vida temporal e eterna. A vontade soberana do Senhor vai prevalecer sempre – e aceitar isto dói menos do que se rebelar, pois como disse Jó: “São assim as veredas de todos quantos se esquecem de Deus; e a esperança do ímpio perecerá” – (8.13); e como bem disse o profeta Jeremias: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor” (Jr 17.7). 

Retornando ao hino 61, dê uma boa olhada na terceira estrófe: “Pela cruz e o sofrimento, / E, afinal, ressurreição, / Pelo amor, que é sem medida, / Pela paz no coração; / Pela lágrima vertida / E o consolo que é sem par, / Pelo dom da eterna vida, Sempre graças hei de dar”. 

Um bom e abençoado dia!

Rev. Joel

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